O melhor (e o pior) dos blogs em 2010

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Não. Nem o Twitter, nem o Facebook, tampouco o Tumblr, o Formspring ou o Foursquare foram capazes de matar os blogs em 2010. Muito pelo contrário, a blogosfera permanece firme e forte, tanto no Brasil como no exterior. Segundo estudo feito pelo The Blog Herald, há mais de 146 milhões de blogs no ar, sendo 2% deles (ou seja, cerca de 292 mil) em português.
Em outro estudo, o State of the Blogosphere (levantamento anual realizado pelo Technorati, principal diretório de blogs do mundo, desde 2004), algumas tendências significativas foram constatadas. Por exemplo, a crescente convergência dos blogs com outras mídias sociais e o aumento do uso de tablets e smartphones para leitura e publicação de posts (25% dos entrevistados já usam dispositivos móveis para atualizar seus sites).
Em um ano marcado por eleições e Copa do Mundo, a blogosfera tupiniquim foi protagonista de debates apaixonados e acirrados. Pela primeira vez um Presidente do Brasil concedeu umaentrevista exclusiva para blogueiros. Mas, em meio a esse fato inédito, testemunhamos a proliferação de sites apócrifos, brigas em espaços de comentários e uma polarização inflamada de embates entre militantes tucanos e petistas na rede. E, se por um lado a Web é uma página em branco quase infinita que abriga opiniões de todos os tipos, por outro me preocupa a tendência de pessoas limitarem-se a somente ler blogueiros ou seguir twitteiros que já corroboram suas opiniões, em vez de buscarem acompanhar também pontos de vista discordantes. Mau sinal: vivemos tempos nos quais internautas parecem ter desaprendido a rebater opiniões contrárias com argumentos, atendo-se a xingar quem pensa diferente com comentários anônimos e réplicas raivosas.
2010 também foi o ano em que a TV se rendeu ao celeiro de novos talentos que é a blogosfera. A MTV, que desde 2008 já buscava na internet nomes como Mari Moon para integrar seu quadro de VJs, prosseguiu garimpando em blogs e Twitter revelações como Thiago Borbolla (do Judão), Marina Santa Helena, Daniel “Katylene” Carvalho e Leandro “MussumAlive” Santos para a televisão. Mesmo caminho trilhado pelo Multishow, cujo portal abriga blogs como Jacaré Banguela eChongas.
É uma pena que projetos bacanas de coletivos como o Interbarney e o Verbeat decretaram o seu fim em 2010. Um minuto de silêncio também para o BlogBlogs. Que, criado por Manoel Lemos em 2006, foi durante muito tempo o principal diretório brasileiro de blogs. Mas enfim, vida que segue. Enquanto alguns projetos são descontinuados, outros novos surgem a todo instante em tempos nos quais novidades como Chatroulette e Google Wave aparecem e somem no aparentemente enorme intervalo de um ano.
A seguir, cito dez blogs brasileiros que se destacaram em 2010 pela qualidade de seus posts e capacidade de reverberação de seus conteúdos. Os blogs a seguir foram elencados em ordem alfabética.
Blog do João Villaverde
Blog do João Villaverde – É um alento encontrar na blogosfera brasileira lugares em que a política é discutida sem maniqueísmos reducionistas. Caso do blog de João Villaverde, jornalista que escreve no Valor Econômico e também colabora no Amálgama. E que, já em agosto deste ano, antecipou uma discussão que o PSDB está enfrentando após a derrota nas eleições presidenciais, sobre os novos rumos que a legenda precisa seguir.
Blog de Leonardo Sakamoto
Blog do Sakamoto – Mais um blog que se destacou no período eleitoral, mas que também botou o dedo em outras feridas como liberdade de expressão, trabalho escravo no Brasil e direitos humanos.
Blog de Leonor Macedo
Eneaotil – Leonor Macedo é uma cronista de mão cheia, com senso afiado de observação do cotidiano, humor e delicadeza. A não perder: a série de posts narrando as desventuras amorosas de seu filho Lucas. Por exemplo, o “capítulo 13″, que fala de mulheres ardilosas e homens burros.
Blog de Aline Lima
Godot Não Virá – No blog de Aline Lima você encontrará posts sobre tartarugas fujonas, profissões ideais como as de dona de sebo, jogadora da seleção russa ou dançarina de burlesque, e discussões sobre temas como aborto, liberdade artística, livros e filmes. Em textos que, apesar de soarem densos à primeira vista, são de leitura sempre prazerosa, com “food for thought” da melhor qualidade.
Blog de Juliana Cunha
Já Matei por Menos – O espaço pessoal de Juliana Cunha, jornalista colaboradora de publicações como Superinteressante e O Estado de S. Paulo, e também do excelente blog de moda Oficina de Estilo. Aqui, sem deadlines ou pautas pré-definidas, Juliana fala sobre todos os assuntos que lhe vêm à cabeça, para o deleite de seus bem mais do que trinta leitores.
Blog editado por Alex Correa, Neto Rodrigues e Marçal Righi
Move That Jukebox – Capitaneado pelos editores Alex Correa, Neto Rodrigues e Marçal Righi, o Move That Jukebox traz entrevistas exclusivas, resenhas de lançamentos e notícias do universo musical em posts de leitura saborosa que fizeram deste blog referência obrigatória entre os veículos independentes do país em pouco menos de três anos no ar. E que reflete o bom momento do jornalismo musical na rede, muito bem representado por outros blogs como Rock’n'Beats,Urbanaque e o indispensável Scream & Yell.
Blog de Celso Rocha de Barros.
Na Prática a Teoria é Outra – Outro grande destaque durante as eleições presidenciais, o NPTO de Celso Rocha de Barros ganhou merecida citação na Folha de S. Paulo pelo modo como conseguiu escapar das discussões polarizadas no auge da disputa Dilma vs Serra. Sem esconder suas preferências ideológicas, escreveu posts críticos e ao mesmo tempo bem-humorados. IMHO, foi o grande blog de política de 2010.
Blog de Maurício Cid
Não Salvo – Maurício Cid começou a se destacar na rede moderando mais de 600 comunidades no Orkut (quando ainda usava a alcunha de C!). Há dois anos, migrou para o universo dos blogs. Nesse intervalo de tempo, seu Não Salvo chegou à marca de 15 milhões de páginas visitadas por mês, foi considerado o blog do ano em eleição promovida pela Folha de S. Paulo e também foi oprimeiro blog brasileiro citado pelo New York Times, graças ao vídeo do “Cala Boca Galvão” criado por Nando Pax. Que é um dos vários exemplos de webhits postados primeiro pelo Não Salvo, que também ajudou a popularizar vídeos como Justin Biba (vencedor do VMB) e Dunga em Um Dia de Fúria. Provas de que, se você quer saber o que está rolando de mais quente na internet brasileira, precisa ter o Não Salvo como bookmark obrigatório.
Blog de Ricardo Yoshio Okama
Ryot IRAS – Não é de hoje que os blogs se transformaram em ótimas plataformas de publicação de quadrinhos, vide o Manual do Minotauro de Laerte Coutinho, os Malvados de André Dahmer, oMau Humor de Arnaldo Branco e o Nanquim na Unha de Leandro Caracciolo. Mas, pela qualidade dos webcomics que produziu durante todo o ano de 2010, destaco em especial o blog de Ricardo Yoshio Okama Tokumoto, que impressiona pela constância e pelo alto nível de suas tiras.
Blog de Tiago Dória
Tiago Dória Weblog – Blogueiro desde 2003, Tiago Dória permanece sendo referência obrigatória para qualquer um que deseja compreender melhor este universo cada vez mais dinâmico da cultura web. Recomendo em especial a leitura destes posts: Por uma internet mais humana,Chatroulette nos tira da zona de confortoArte de criar e transmitir boatos e Cinco livros que eu comentei em 2010.

Blogs e a pergunta que não quer calar

Em todos estes anos trabalhando nesta “indústria vital”, eu nunca deixei de ouvir uma pergunta em todos os eventos que reúnem blogueiros desde que participei do BarCamp São Paulo. Para quem não sabe, este evento organizado por André Avorio nos dias 24 e 25 de março de 2007, representou o pontapé inicial de todos os BlogCamps que foram realizados no Brasil de lá para cá.
BarCamp Sampa em 2007
Recordar é viver. Quantas figurinhas carimbadas da blogosfera você reconhece nesta foto de março de 2007, publicada no blog do Tiago Dória?
Os blogueiros das antigas, que já participaram dos BlogCamps organizados desde 2007 e de outros eventos como a Campus Party Brasil, não aguentam mais ouvir falar na pauta que sempre é levantada por algum incauto na multidão: como ganhar dinheiro com blogs? E não preciso pegar uma carona no DeLorean da memória para relembrar discussões acaloradas e as polemizações de sempre envolvendo blogueiros que “traíram o movimento”, posts paraquedistas, uso indiscriminado de Google Adsense e programas de afiliados, publieditoriais, jabás, posts patrocinados, yada yada yada. Enfim, os mesmos papos sobre monetização que acabaram por inspirar uma piada genial doLuiz Biajoni.
Monetizando blog
A inusitada participação do pintor Claude Monet nos debates que envolveram a blogosfera brasileira.
Já me manifestei sobre o assunto várias vezes, e minha opinião não mudou muito de lá para cá. A resposta definitiva para quaisquer questões relacionadas a monetização é simples: a chave está na produção de conteúdo inédito e relevante. Se você publicar posts capazes de apresentar um conteúdo diferenciado do que já estamos habituados a encontrar em portais ou outros blogs, paulatinamente se fará conhecer. Expresse opiniões, compartilhe conhecimentos, dê a cara a bater. E escreva sobre os assuntos que você melhor domina, ao invés de agir feito mais uma maria-vai-com-outros, postando sobre os temas e as celebridades da vez só porque teoricamente eles gerarão mais visitas. Destacar-se da multidão, em especial numa época na qual há milhões de pessoas produzindo conteúdos em blogs, Twitter, Facebook, Flickr e YouTube, não é tarefa fácil.
É bom lembrar, porém, que há diversas e diversas maneiras de usar blogs como maneira de ajudar a manter o nome limpo no SPC e Serasa. Vide, por exemplo, o caso do Papo de Homem. Criado há quatro anos pelo publicitário Guilherme Nascimento Valadares sob o conceito de lifestyle magazine, o PdH cresceu a tal ponto que, de blog, acabou por se tornar um portal de conteúdos voltados para o público masculino. Como resultado de todo o trabalho desenvolvido até hoje, o Papo de Homem possui nove funcionários (sendo seis deles em tempo integral), provando que blogs podem, sim, representar o ponto inicial para a criação de novos e promissores negócios.
Papo de Homem: um blog que virou empresa.
Papo de Homem: exemplo de blog que virou empresa.
Há diversos outros exemplos de sucesso na blogosfera brasileira, provando que só os caducos da vida digital ainda são capazes de definir blogs como “diarinhos online”, estereótipo que foi muito disseminado no começo desta década. Vide, por exemplo, o “business plan” de um blog como o Amélias, que foi criado a partir da necessidade de divulgação de produtos ligados a um e-commerce, no qual as pautas eram criadas a partir das ofertas promovidas por uma loja virtual. Ou oGarotas Estúpidas, da pernambucana Camila Coutinho. Além de promover o concorrido eventoShopping Day, reunindo leitoras para um dia de compras, Camila teve o privilégio de ver o Garotas Estúpidas sendo citado como um dos 45 blogs de moda mais bacanas do mundo pelo site da Vogue Paris.
Mas o caso é que os blogs não são nada mais do que ferramentas de publicação que facilitam a vida de quem deseja compartilhar ideias, fazer novas amizades e puxar uma cadeira na imensa mesa de bar da Internet. Assim como existem livros que compilam receitas, elencam dicas duvidosas de autoajuda, reúnem poemas, romances épicos ou confissões cotidianas, também existem blogs para todos os gostos, sexos e públicos. Fazer negócios é apenas uma das muitas facetas de uma ferramenta fantástica, que possibilitou que um taxista como Mauro Castro iniciasse carreira literária, um cardiologista como o Dr. Leonardo Diamante começasse a blogar aos 65 anos de idade e uma mãe como Odele Souza criasse o blog Flávia Vivendo em Coma para denunciar ao mundo o caso de sua filha, que está em coma há mais de 12 anos em decorrência de um acidente provocado pelo ralo de uma piscina.
Por causa destes e de tantos outros motivos personificados pelos muitos amigos que fiz graças ao meu blog pessoal, não posso deixar de dizer que fico meio frustrado quando vejo a insistência com que ainda me fazem a tal pergunta que não quer calar. Ok, não sejamos hipócritas: como diz aquela piada surrada, dinheiro não traz felicidade, mas pode encomendá-la por delivery. Porém, há razões muito mais gratificantes para começar a escrever em um blog. A vida é boa e cheia de possibilidades. =)

Internet “hemburresce”?

qua, 08/12/10
por Alexandre Inagaki |
categoria Vida digital
A internet pulveriza nossa atenção. Cada link que encontramos em um texto é um estímulo a mais para o DDA (Distúrbio de Déficit de Atenção) que há dentro da gente. E bastam alguns minutos para que meu browser fique repleto de abas abertas carregando sites sobre os quais não tenho a menor ideia de como fui parar neles, feito um turista acidental que perde seus mapas no meio do caminho.
Nicholas Carr, professor do MIT (Massachusetts Institute of Technology), escreveu em 2008 um artigo polêmico intitulado “O Google está nos fazendo estúpidos?”, no qual lançou a tese de que a internet (simbolizada pela sua ferramenta de buscas mais conhecida) está minando nossa capacidade cognitiva e reflexiva.
Oras, por que se preocupar em guardar certos dados no HD limitado de nossos cérebros, se o Google está aí como muleta do conhecimento, capaz de nos dar as respostas mais imediatas ao alcance de poucos cliques? E assim, segundo a visão crítica de Carr, estaríamos caminhando para um cenário de pessoas cada vez mais distraídas, incapazes de se concentrar na leitura de textos mais longos sem resistir à compulsão de apertar a tecla Page Down e pular alguns parágrafos.
Essa visão apocalíptica, segundo a qual o Google e a Web – com seus milhões de blogs, sites e mídias sociais – dispersam nossa atenção a ponto de pulverizar nosso foco, me fez recordar de“Nada Tanto Assim”, canção composta por Leoni e Bruno Fortunato, gravada pelo grupo Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens em 1984. É curioso pensar que, por trás de um pop/rock aparentemente inofensivo e feito para tocar em FMs, há versos que refletem uma geração que parece encarar esta era de excesso de informações de modo cada vez mais superficial.
Só me concentro em apostilas
Coisa tão normal
Leio os roteiros de viagem
Enquanto rola o comercial
Conheço quase o mundo inteiro
Por cartão postal
Eu sei de quase tudo um pouco
E quase tudo mal
Eu tenho pressa
E tanta coisa me interessa
Mas nada tanto assim
Não deixa de ser significativo o fato de que este hit do Kid Abelha foi gravado há mais de 25 anos. Ou seja, muito antes da difusão da World Wide Web, do surgimento de dezenas de canais de TV por assinatura que zapeamos a cada minuto, e do lançamento de celulares e smartphones que tocam e vibram a qualquer momento, inclusive em meio a reuniões, palestras e demais atividades que deveriam merecer 100% da nossa atenção.
Que atire o primeiro mouse aquele que nunca interrompeu uma leitura para bisbilhotar a caixa de e-mails. Ou que nunca acessou o Twitter no meio de um evento, a fim de compartilhar suas impressões em tempo real e aproveitar para fuçar opiniões alheias. E aí, matutando a respeito da tese ciberapocalíptica de Nicholas Carr, penso: será que, de fato, o Google está tornando as pessoas mais estúpidas?
Lembro, por exemplo, que antes da Apple lançar o iOS 4.2, o iPad não era multitarefa. Ou seja, não permitia que vários programas fossem rodados ao mesmo tempo. O que parecia ser um defeito, no entanto, acabou virando qualidade para mim. Pois, graças a isso, consegui ler livros no iPad sem que meu foco se perdesse por causa de janelas do Messenger e avisos de chegada de novos e-mails pipocando na tela.
Em tempos nos quais a gente se habitua quase que automaticamente a escanear com os olhos textos mais longos, dando uma passada de olhos superficial num artigo ao invés de ler cada linha e cada parágrafo com a atenção necessária, confesso que pensei duas vezes antes de atualizar o sistema operacional do meu iPad. Porém, sucumbi e acabei instalando o novo OS.
Há ainda alguns focos de resistência em meu cérebro, contudo, para toda essa saraivada de informações simultâneas. Experimentei o RockMelt, por exemplo, e abandonei de cara a ideia de trocar o Firefox ou o Chrome pelo novo browser do momento.
Até eu, que já estou mais do que habituado a navegar com dezenas de abas abertas, me incomodei com a quantidade caudalosa de informações ao estilo #TudoAoMesmoTempoAgora do RockMelt. Que dá acesso direto, em painéis laterais, a updates de Twitter, Facebook, atualizações de feed e contatos que estejam online no FB. A sensação foi claustrofóbica, como se um tsunami de informações tivesse me engalfinhado por todos os lados. Obrigado, mas ainda prefiro checar as atualizações do Twitter ou das minhas assinaturas de RSS em janelas separadas de um Firefox ou Safari.
Nem para o céu, muito menos para o inferno. Não penso que o Google ou as novidades tecnológicas que permeiam cada vez mais o nosso cotidiano nos emburrecem. A provocação de Carr é válida por instigar reflexões sobre a atual era de informações. Porém, entendo que links, mais do que veículos de dispersão, são janelas que ampliam pontos de vista, aprofundando conhecimentos e trazendo novos dados sobre determinado assunto. Do mesmo modo, penso que os muitos sites que abro em diferentes abas do meu navegador distraem, mas também são fontes de inspiração e fomento de novas ideias. Enfim: como tudo na vida, precisamos descobrir como chegar ao equilíbrio entre o 8 e o 80, almejando chegar a algo próximo do 44. Ou do 42



Créd:TechTudo

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